O CORDEL E OS CORDELISTAS NO SÉCULO XXI

 

O CORDEL E OS CORDELISTAS NO SÉCULO XXI

Por: Arodinei Gaia*

 

            A literatura de Cordel, é uma das artes que melhor representa a cultura artística brasileira, pois apesar de seu embrião europeu, ela possui a cara e o corpo do poeta canarinho. Por muitos, é conhecida como poesia popular e nas Universidades, muitos a veem como uma manifestação literária do mais refinado gosto. Romance, anedota, noticiário, causos populares, regionalismo, fábula, lenda, estórias e histórias das mais variadas temáticas são contadas no Cordel.

            De simples livreto, ou poesia popular, o cordel passa a ser visto como uma obra difícil de ser produzida, pois obedece um padrão rigoroso e bem definido que envolve rima, métrica e oração, portanto, não se resume a um simples versejar. O poeta cordelista é aquele com habilidade, suficiente, de desenvolver uma narrativa que contemple, ao mesmo tempo, um bom roteiro com a riqueza poética, a beleza rítmica da rima e o rigor da métrica.  

            Grandes poetas do século passado como Leandro Gomes de Barros, Manoel D’Almeida filho, João Martins de Ataíde, Antônio Teodoro, Minelvino Francisco Silva, José Camelo de Melo, José Pacheco, entre outros, são lembrados como expoentes da literatura cordelista e considerados, hoje, como autores clássicos do cordel. 


            O reconhecimento maior do cordel no país, veio no dia 19 de setembro de 2018, quando, merecidamente, ganhou do IPHAN, o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Foi uma data comemorativa para todos que vivem ou estão ligados a produção cordelista, entre eles, poetas, folheteiros, editoras, declamadores, xilógrafos, ilustradores, etc.

            O cordel já foi conhecido como um gênero literário característico do norte e nordeste brasileiro, principalmente do nordeste, o que não deixa de ser verdade pelo seu nascedouro e pelos grandes poetas originários da região nordestina. Entretanto, o Brasil todo, já foi consumidor e/ou construtor da referida literatura. Inclusive com grandes editoras fora do Nordeste como A Luzeiro com sede em São Paulo e a extinta Guajarina em Belém do Pará.

            As primeiras décadas do século XXI, apresentam ao país grandes nomes de poetas cordelistas que estão nas cinco regiões brasileiras, embora o nordeste continue sendo um palco recheado de grandes poetas e poetisas.

            Com a difusão das redes sociais, o século XXI, veio proporcionar o encontro e a união desses artistas dos versos e rimas, assim como potencializou a divulgação dos trabalhos nas redes sociais. A partir daí grandes projetos coletivos surgem para fortificar e ampliar o poder de alcance da poesia cordelista. Eventos literários, Feiras de Livros, Encontros de cordelistas regionais e nacionais, viraram rotina na vida do poeta. E o mais importante de tudo, o cordel chegou até às escolas. Em todo o país os poetas e poetisas são chamados para palestras, oficinas e eventos literários nas escolas onde falam do seu trabalho, apresentam ao público o que é o cordel e aproveitam para realizar venda dos livros. É o encontro do autor com o leitor.

            Outro fator importante para esse crescimento e reconhecimento do gênero no país é o protagonismo das Editoras. Estas estão diretamente envolvidas com os escritores, promovendo trabalhos coletivos e individuais, facilitando e dando condições para que os escritores cordelistas possam publicar suas obras.

            Editoras como a Nordestina, Soslaio, Central do Cordel, Imprimatur, Isvá, Queima bucha, Cromos, etc. São exemplos de Editoras que vem publicando em parceria com autores, tornando cada vez mais usual as publicações independentes dos artistas.

            A Editora Nordestina da Bahia, através de seu editor e poeta Zeca Pereira, é a que mais vem proporcionando o encontro dos cordelistas através de projetos audaciosas, onde consegue reunir poetas e poetisas de todas as regiões do país. Foi assim que coletâneas como: “O baú do medo” (2019), “Anuário dos Cordelistas” (2019), “Além do Cordel” (2017), “Cordelistas Contemporâneos” (2017), e outros foram organizados e publicados com a participação de um grande número de cordelistas brasileiros.


            A editora Central do Cordel do poeta Ulisses Ângelo, também lança alguns volumes coletivos, um exemplo foi o projeto da trilogia do “O Hospital Amaldiçoado” lançado em 2020 que teve participação, na impressão dos dois primeiros volumes, da baiana Nordestina do poeta Zeca Pereira e da paraense Imprimatur do poeta Francisco Mendes. A temática do terror chegou para agradar o leitor. 


            A última façanha literária de Zeca Pereira foi a organização do “Dicionário Biobibliográfico dos Cordelistas Contemporâneos” volume 1, lançado em 2020. A referida obra é um marco para a literatura cordelista moderna, pois reuni a biografia de mais de duzentos poetas e poetisas. Um trabalho que vem de encontro aos anseios de acadêmicos universitários e pesquisadores da temática.

            Outro fator que vem se somar a isso, é o surgimento de Academias e Associações Estaduais e Regionais de poetas cordelistas em todo o Brasil, que defendem o cordel juntamente com a Academia nacional, a ABLC (Academia Brasileira de literatura de Cordel).

            Trabalhos de cunho acadêmico /científico, também vem se ampliando no país. São universitários concluintes de curso de graduação, pós-graduação e pesquisadores que enveredam pela temática. Assim, surgem monografias, dissertações e teses de doutorado sobre o gênero cordel.

            Portanto, para quem um dia pensou que a difusão dos meios de comunicação de massa fosse apagar do mapa literário a figura do artista do cordel, se enganou, pois aconteceu exatamente o contrário, a literatura de cordel está mais viva do que nunca e fortalecida pela vontade de autores, editores, professores, simpatizantes, pesquisadores e, principalmente, pelo público leitor que a bem da verdade, vem cada vez mais aumentando em todas as regiões brasileiras.    

 *Arodinei Gaia de Sousa. Historiador, Escritor, poeta e cordelista. Membro da Academia Paraense de Literatura de Cordel (APLC), cadeira n° 13.

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