PEDRO TEIXEIRA NO RELENTO

Monumento a viagem de Pedro Teixeira na Amazônia está abandonado
Por: Arodinei Gaia (Historiador/Escritor cametaense)

    Fazendo uma visita a feira municipal de Cametá, observa-se logo como a história do nosso município é jogada no lixo. 
    Na feira livre existem dois monumentos em memória do explorador português Pedro Teixeira que por aqui esteve em 1637, quando essa região ainda era chamada Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá.
    Pedro Teixeira, veio a serviço de Portugal, que, naquele momento ainda estava ligado a Espanha pela União Ibérica (1580-1640). Assim, a missão de conquista da Amazônia, extrapolava os limites da linha de Tordesilhas que "dividia" essas terras entre Espanha e Portugal, e assim assegurava um bom quinhão para a coroa Lusitana, que logo passaria a ter rei próprio novamente.
    A expedição que veio de Belém do Pará, passou por Cametá foi até Quito no Equador, contava com cerca de duas mil pessoas, 47 canoas com muitos remadores cada, 70 soldados e 1,200 índios remeiros e flecheiros. Um dos grandes desafios da viagem, além do desconhecido, era enfrentar as famosas amazonas, uma tribo mítica formada apenas por mulheres guerreiras.
    Como lembrança a essa viagem, Cametá ergueu dois monumentos: A Estátua de frente para o rio Tocantins, onde outrora havia uma escadaria, por onde os ribeirinhos subiam para a cidade trazendo seus produtos. O outro é um obelisco construído na rua principal que interliga o mercado de carne ao galpão da feira da farinha. O obelisco foi construído pela ocasião do tricentenário, em 1937, da famosa viagem do navegador lusitano. Os dois monumentos há tempo estão em completo abandono.
    Esse texto não tem como objetivo entrar no mérito da discussão de exaltar ou não a façanha do explorador português, mas sim de chamar a atenção para manutenção de nossa história. Os dois monumentos que outrora, foram construídos com objetivo de exaltar a figura do conquistador, hoje ganha outro sentido. Além do valor histórico, simbólico e turístico, até o material que foi feito e a habilidade da mão do escultor já guarda um importante valor artístico e histórico. Tais monumentos, além da história do município, guardam a memória da feira, das pessoas que viveram épocas passadas, quando estes, lá já existiam. 
    É importante, também, para que nossos estudantes, acompanhados de seus mestres, visitem o local e conheçam a origem de seu município. A própria história dos “vencidos e vencedores” enfatizada pelo hino municipal, pode ser discutido criticamente, e quem sabe resignificar a figura do "herói ou do bandido", dependendo da vertente ideológica que se defende.
    Se perguntarmos aos estudantes quem foi Pedro Teixeira, poucos saberão dizer algo sobre o personagem histórico. E grande parte, nem mesmo sabe que existem essas esculturas em sua memória na feira municipal, bem como a existência dessa viagem e sua relação com a colonização do norte do país.
       Portanto, os dois monumentos tem valor turístico e pedagógico já que visitas e aulas ao ar livre podem ser organizadas ali no entorno dos monumentos. 
    O Escritor Antônio Noberto, historiador e curador do museu de São Luis no Maranhão, que esteve em visita a Cametá recentemente em março de 2021, também demonstrou preocupação pela forma como monumentos históricos cametaenses estão sem o devido cuidado necessário para manter viva a história do município. 
    Novos monumentos devem surgir em memória dos outros personagens da história. Que tal também homenagear os verdadeiros donos da terra, os indígenas? e o povo ribeirinho que tanto fez crescer esse município com suas mãos na labuta diária, também merece um obelisco. Os índios camutás e Daniel de La Touche também devem ser lembrados em Cametá-Tapera. Vamos manter o que tem e homenagear quem foi, no passado excluído.
    Os dois monumentos hoje, perecem diante do descaso de políticas públicas para o patrimônio histórico-cultural, e diante do esquecimento das autoridades governamentais que, devem valorizar mais, em seus mandatos, a história do torrão que governam.
    A estátua de Pedro Teixeira foi engolida pela urbanização desordenada da beira da frente da cidade na margem do rio e o obelisco se esconde no meio das barracas dos feirantes. Os dois, tem um ponto em comum: viraram “mijódromo” dos transeuntes e bêbados apertados pela necessidade fisiológica.
    São os símbolos dessa longa história, que tornam-se invisíveis aos olhos de quem ali passa, e que assim como a “pata cega” da praça da cultura, correm o risco também de desaparecer, caso medidas urgentes de reparos não sejam tomadas.
    A estátua do navegador lusitano Pedro Teixeira está presente em praças de muitos outros lugares como Belém do Pará e em Portugal, algumas melhores cuidadas e outras nem tanto.
Pedro Teixeira em Portugal - Fonte; Kalide


Música cametaense que satiriza a viagem de Pedro Teixeira em Cametá

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